segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ele agora é um homem!

Passando pelo corredor, havia o quarto do menino, que ficava em frente ao da sua irmã. O contraste entre os dois quartos era evidente, assim como o que havia entre os dois irmãos! O quarto de Luíza era um típico quarto de patricinha sonhadora. Paredes pintadas de azul bebê, uma cama coberta por uma colcha cor-de-rosa, um baú cheio de lembranças de sua infância e adolescência, uma escrivaninha para estudos (já falei que ela fazia faculdade de moda?), um armário. O clima inocente e cálido contrastavam com a postura sensual e dominadora daquela que ali dormia. Já o quarto de Lúcio era uma mistura de rock'n'roll com ciência. Pôsters do Nightwish e do Kiss cobriam quase toda a tinta branca com a qual as paredes daquele quarto foram pintadas. Muitos objetos que lembram um estilo gótico, um rádio, cds de bandas de rock pesado. Mas o destaque do quarto era uma gaiola contendo um râmister. O melhor amigo de Lúcio, aquele com quem o menino dividia todos os seus segredos e frustrações.
Entrando no seu quarto, Lúcio abre seu armário, pega uma muda de roupas e se dirige ao banheiro mais próximo, que ficava entre o seu quarto e o de sua irmã. Enquanto se despia, Lúcio começa a se livrar das consequências do seu dia. Inveja do peguete da irmã, uma lixeira chutada, o susto de uma senhora de idade. Era como se a roupa que ele usava carregasse todas as frustrações do menino, as quais ele precisava se libertar. E água é um bom remédio para isto. Lúcio liga o chuveiro e começa aquele velho ritual que todo ser humano normal pratica quando entra num box. De repente, lhe vem a imagem de uma de suas colegas de turma. Maria tinha a pele alva como a neve, mas a coloração negra de seus cabelos contrastava de forma interessante e sensual com a sua pele. O uniforme do colégio valorizava as curvas das moças, dando-lhes um toque de maturidade sexual.
- Lúcio, eu não entendo esses cálculos! me ensina?
- Cla-claro!
Conforme ele lhe ensinava aquelas regras exatas de cálculos matemáticos e fórmulas químicas, a menina, atrás dele, se aproximava de seu rosto. Suas mãos acariciavam os cabelos de Lúcio, e sua respiração fazia o garoto sentir uma forte e poderosa sensação de prazer e libertação. No momento em que esta sensação se intensifica...
- Lúcio! Temos visita hoje! gritava a mãe do menino.
- O que é, mãe? respondeu-lhe o garoto irritado pelo fato de sua mãe interromper seus momentos de deleite com assuntos irrelevantes.
- Eu disse que temos visita hoje! Uma amiga do seu pai vem jantar aqui e...
- E eu com isso?! Me deixa em paz! Vai fazer sala para essa mulher, vai!
- Olha como você fala comigo, hein, garoto! Você é meu filho e me deve respeito!
De repente, uma voz masculina, excitante, forte e instigante interrompe a bronca que Lúcio levava da mãe.
- Oh, Camila! dizia este homem sussurrando. Deixe nosso filho em paz! deixe ele demorar o quanto quiser no banho!
- Eu ia falar com ele e ele me...
- Já falei para esquecer isso! Ele agora é um homem!
- Como assim?
E a conversa rolava. Ouvindo aqueles sussurros que ele reconheceu serem de seu pai, ele ficou encabulado, envergonhado. Decidiu sair do banho e se enxugar.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Eu sou rebelde!

No caminho para casa, ele pensava no relacionamento que sua irmã estava vivendo. E as perguntas pairavam sobre sua cabeça como pombos numa estátua. "Será que algum dia vou me apaixonar de verdade", pensava ele. Todos os seus colegas de turma, seus amigos do prédio, todos os garotos da sua idade já tinham vivido ou vivem um relacionamento com alguém. Somente ele ainda não tivera a menina perfeita na sua frente, disposta a iniciar um romance. Cada passo que ele dava no caminho de volta era como um passo dado a menos nas velhas e concorridas olimpíadas do amor perfeito.
Ele sabia que era jovem demais para viver um grande amor e que uma relação sólida entre duas pessoas não se constrói em um dia. Enquanto caminhava em direção ao prédio onde morava, ele via muitos casais de variadas idades, realizando diversos movimentos de afeição um para o outro. Mãozinhas dadas, beijos longos e lentos, um afago no ombro do outro. O que para um romãntico assumido seria visto como algo magnânimo, sublime, para ele, era visto como um deboche. Cada casal parecia debochar de sua virgindade tanto da alma quanto do corpo. Seu sangue subia cada vez mais. "Quando vai chegar minha vez?", pensava o pobre Lúcio. Uma irritação começou a tomar conta de seu corpo. Tudo se tornou sombrio e tenebroso. A rua tornou-se escura e as pessoas transformaram-se em palhaços, que bricam debochadamente com o público do picadeiro. Uma vontade enorme de se rebelar subia-lhe na mente. "Até minha irmã achou alguém pra amar!", pensava ele, "A garota mais chata do mundo!". De repente, ouve-se um barulho. "Splash!!!" Lúcio tinha acabado de chutar uma lata de lixo de uma lanchonete. Tudo voltou ao normal. Quando Lúcio voltou a si, todos estavam olhando aterrorizados para aquele garoto.
- Que vândalo! exclamou uma velhinha que viu o acontecido.
Lúcio se sentiu envergonhado. Pobre menino! Seu primeiro pensamento foi ajudar a limpar a calçada, mas seu embaraço era tão grande que só lhe restou sair correndo.
Depois que aquele momento de fúria e embaraço passou, ele se viu no portão de seu prédio. Ele resolveu entrar e não sair mais naquele dia. Subindo o elevador, ele pensou no seu dia. Em tudo o que aconteceu. No elevador, havia um espelho enorme. Lúcio se viu e não se reconheceu. Seu peitoral magro e sem graça, seus cachos loiros e bem arrumados, seus olhos, suas pernas. Nada do que ele via no espelho parecia lhe traduzir quem era aquele que estava se refletindo, porque sua mente estava fixada naquele que se rebelou momentaneamente com a vida. Os dois Lúcios não combinavam. Um era estudioso, certinho, tinha um caráter invejável por todos os pais de seus poucos amigos, centrado; o outro, rebelde, playboy, marrento, estouradinho.
A porta do elevador se abriu. Lúcio se dirigiu para seu apartamento. Passando pelo corredor, ele percebeu a beleza da decoração. Um tapete amarelo com detalhes vermelhos e laranjas cobria o chão. As paredes brancas como a neve davam um destaque às portas de madeira envernizada. Ao chegar em frente ao apartamento, ele abriu a porta, passou pelo corredor e encontrou com sua mãe.
- Lúcio, querido! cadê sua irmã?
- Ela ainda está na praia.
- Não tá não! Ela me ligou dizendo que ia passar na Marcinha rapidinho e ainda não voltou.
Marcinha era outra nerd. A melhor amiga da irmã de Lúcio. Ih, esqueci de dizer que seu nome era Luíza. Enfim... era estranho ver duas moças de quase 20 anos tão diferentes na atitude e na personalidade serem amigas. Marcinha era retraída, tímida, introspectiva e gostava de ver as roupas e o estilo de sua amiga. Era ruiva, tinha acnes por todo o rosto e nunca namorou um rapaz. Já Luíza... era uma espoleta. Cada semana, tinha um namorado diferente. Já lhe disse que Luíza transava com todos eles no primeiro encontro? Pois é. Algo que a maioria das mulheres acham ser uma atitude de vadia, ela achava a coisa mais normal do mundo; afinal, é um legado da Revolução Sexual dos anos 1960. Mas, voltando ao diálogo...
- Por acaso sua irmã tá saindo com aquele pervertido filho da vizinha aqui do lado?
- Acho que não, mãe. Ela troca de namorado como troca de roupa!
- Ainda bem. esse menino é um marginalzinho! Não quero a minha filha metida com esse tipinho aí!
- Vou tomar banho!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Um homem

Era uma típica tarde de verão brasileiro. As praias estavam repletas de gente se banhando no mar, tomando um solzinho... As belas mulheres exibiam seus corpos esculturais, tampando apenas o, digamos assim, necessário. Os homens não paravam de analisar as belas formas femininas e pensavam como seria uma maravilha ter uma dessas em suas camas, deleitando-se em momentos de prazer. Os calçadões transformavam-se em verdadeiras passarelas da atividade física, onde pessoas buscavam sua saúde. Aqueles que não podiam aproveitar os momentos de deleite que o verão brasileiro podiam proporcionar trabalhavam e transpiravam. Como transpiravam... As altas temperaturas do nosso verão são cruéis com aqueles que não podem aproveitá-las!
Neste cenário, havia um belo menino loiro de olhos azuis que não aparentava ter mais do que 15 anos. Apesar de bonito, ele era nerd. Um típico nerd anti-social que idolatrava as fórmulas matemáticas aprendidas na escola. Seu nome era Lúcio. Ele morava em frente à praia de Icaraí, com seus pais e sua irmã mais velha. Aquela loira de biquínis rosa com detalhes amarelos beijando um surfista moreno perto da água. Ele parava e pensava qual seria a sensação de beijar uma mulher. Todas as noites, ele se via no laboratório de química da escola, realizando uma esperiência qualquer com substâncias inorgãnicas e fazendo cálculos estequiométricos. De repente, aparecia uma bela cientista. Loira como ele, mas com um toque a mais de sociabilidade. Ela se aproximava dele e olhava seus cálculos.
- Não, Lúcio! Esse cálculo está errado!
- Como posso acertar os cálculos se as substãncias não resultam naquelas que eu quero?
- Vou te mostrar!
Ela se aproximava ainda mais... colocava a mão do menino em seus seios... fazia-o acariciá-la suavemente... O menino já estava transpirando e algo estava diferente. Seu corpo não correspondiam mais aos seus comandos. Suas pernas tremiam, seus olhos não conseguiam fugir daquele rosto angelical e branco.
- Entendeu agora? Quer analisar essa substância que fois ecretada pelo seu corpo?
- Bem... eu... será que...
A mulher ria.
- Vou ajudá-lo.
Os lábios dela começavam a se aproximar dos do rapaz. Pobre menino! O que a falta de informação e orientação dos pais no momento certo fizeram com ele?! Todos os garotos da idade dele já tinham alguma experiência com mulheres. Sejam elas prostitutas, namoradas, enfim. Mas Lúcio... pobre Lúcio! Nenhuma. Ele se deixava levar por aquela sensação prazerosa que estava sentindo. Deixava-se levar pelo momento. E, quando os lábios iriam se encontrar...
- Lú! chamava uma voz feminina. O menino acorda de seu sonho e se vê novamente na praia.
- Mana, o que foi? Você não estava se pegando com seu namorado? O que você quer?
- Xiiiiiii... quanta ignorância! Ele foi pegar um refrigerante pra gente. Por que tá irritado?
- Nada. Coisa minha.
- Hum, sei. Essa "coisa minha" deve ter nome e sobrenome.
- Não enche o saco. Tava pensando na prova de semana que vem.
- Prova de como chamar uma garota pra sair? Prova de socorro não quero mais ser um nerd?
- Vou pra casa! Vai namorar, vai!
E com essas palavras irritadas Lúcio voltou para sua casa.

"Tenho que mudar?" ("American life", versão Re-invention Tour, Madonna)

É o seguinte: postarei apenas ficção a partir de agora. Cansei dos momentos reflexivos e da chatice que é ficar pensando em coisas que não valem à pena para mim. Deleitem-se em momentos de pura fruição.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Após uma briga feia, nos tornamos novos Jacobinas?

As relações entre os seres humanos são muito complexas! Uns se amam, outros se odeiam, aqueles outros nem se conhecem. Enfim... há bilhões e bilhões de pessoas convivendo num mesmo espaço chamado planeta Terra. E a todo momento há pessoas rindo, chorando, amando, odiando, brigando, transando e realizando outras inúmeras atividades com outros seres humanos. Mas como entender a mente humana? Por mais que sejamos amigos ou que tenhamos algum tipo de relação com uma determinada pessoa, como convencê-la a entender que muitos irão ferí-la ao mesmo tempo que muitos irão amá-la? Isto é algo que já está enraizado em nossa consciência, mas que não vem à tona quando passamos por uma desilusão amorosa ou quando nos decepcionamos com alguém. É como se os nossos instintos, nosso coração só quisesse enxergar aquilo que nos é conveniente. Seja uma palavra amável saída de uma pessoa cujo caráter é duvidoso ou um fato ocorrido envolvendo pessoas do nosso círculo social que se propaga e as partes divulgam sua versão da história. Aliás, até para quem esteve envolvido com algum acontecimento desagradável, contar (e filtrar) sua versão do ocorrido é também muito conveniente. Mas o que ocorre com as pessoas que só escutaram apenas uma versão, mesmo que filtrada? É claro que elas só terão apenas uma diretriz de julgamento. Mas como convencer alguém disso? E quando esta pessoa está tão ferida e magoada que se recusa a enxergar os fatos sob um outro ponto de vista? Sob a perspectiva de alguém que, mesmo sentindo a sua dor e o seu sofrimento, está à parte de tudo e tem mais condições para guiá-la rumo ao esclarecimento de certos fatos ainda mergulhados nas trevas do ressentimento e da tristeza? É, querido leitor, ser amigo é uma tarefa árdua! Ser amigo é como ser Machado de Assis escrevendo um de seus romances da 2ª fase, pensando em inúmeros recursos estilísticos e estéticos, trabalhando sempre com a linguagem. É como o esforço que o lobo mau faz para tentar derrubar a 3ª casa somente com um assopro! Depois de separações feias e brigas sérias com pessoas que amamos e que aparentemente achávamos que nos amava, como devemos reagir a dor e ao ressentimento? Perdoando, esquecendo o que aconteceu e retomar do zero; sofrer e guardar rancor daqueles que um dia nos magoaram; ou nos lamentarmos a todo momento, acreditarmos que somos vítimas e cancelarmos qualquer tipo de contato que temos com estes? Muitos dizem que as duas últimas opções são muito fáceis e convenientes. Mas a que preço? Vale à pena seguirmos pela estrada mais larga e iluminada, sendo que, como consequência, perderemos a nossa humanidade e a nossa fé nas pessoas? Ou será que, mesmo sentindo dor e uma vontade louca de bater em alguém, devemos seguir pela estrada mais estreita e escura, sendo que nossa recompensa será o paraíso eterno? Mesmo conscientes de que a opção mais fácil nos trará consequências desastrosas, muitos preferem seguí-la. Infelizmente. E aos poucos elas se tornam tudo aquilo que um dia repudiaram. Bentinhos que se lamentam a todo momento da possível infidelidade de sua Capitu. Após uma briga feia, nos tornamos novos Jacobinas?

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

As famílias são as neonações?

Na postagem anterior, eu afirmei ser a morte o maior mistério que envolve a existência do ser humano. A única certeza que temos. A única certeza é, mas não o maior mistério. O homem mais feliz do mundo vê a si mesmo e a sua família ao redor de sua cama, em seu leito de morte, e tem orgulho de tudo o que construiu ao lado de uma mulher. Uma família fabulosa composta por pessoas de bem, respeitáveis e respeitosas, com uma boa formação moral e que construíram outras familias fabulosas com as mesmas características do que as suas, talvez até melhores! Depois chega a vez de sua digníssima companheira. E chega a hora em que os filhos se reúnem para repartirem os bens deixados pelos pais. Onde está Machado de Assis e suas palavras ferinas neste momento? Aprendi nesta vida que quanto mais bens uma pessoa tem na vida, mais ela quer ter. Isto pressupõe a seguinte questão: o número de riquezas de uma pessoa é equivalente ao déficit do desenvolvimento do bom senso e do instinto de coletividade e irmandade. Uma família de classe média sustentada pelos patriarcas, as galinhas dos ovos de ouro, torna-se um abutre ao ver que os bens deixados por eles estão disponíveis para a partilha entre irmãos. Todos sabem que, quando o assunto é dinheiro, as pessoas deixam de ser seres racionais e partem para as agressões físicas e verbais, para os desentendimentos e para as intrigas. Algumas vezes, até mesmo para o sistema de alianças, como aquele realizado pelos países em tempos de guerra; a Primeira Guerra Mundial, por exemplo. Nestes casos, o que acontece com aqueles que não estão envolvidos com a partilha de bens e, mesmo assim, sofre com algum tipo de pressão psicológica para se aliar a um lado? Estes são os mais prejudicados. São sim! Eles observam seus pais e tios guerrearem entre si para demarcarem seus territórios e sentem uma profunda tristeza ao ver a família perfeita ser bombardeada por desencontros, intrigas e barracos na família. E eis o mais agravante de tudo: estas brigas têm uma causa, o dinheiro. Nessas horas, eu penso e chego à conclusão de que a Alemanha pré-hitlerista foi mal entendida pela História. Depois de se consolidarem como um Estado unificado, os alemães apenas queriam um pedaço de terras africanas, e os aliados simplesmente acabaram com seus sonhos de criar um império que transcendesse a Europa, porque não queriam dividir seus territórios com mais ninguém. No século XXI, as guerras entre nações continuam. Desde o início dos tempos, os povos guerream por terras e outras conquistas para enaltecerem ainda mais o ego do representante do povo. Foi assim com as Guerras Púnicas, com as guerras contra os bárbaros, as cruzadas, as Grandes Guerras Mundiais, o Golfo, Iraque, terrorismo e outras que, hoje, estão destruindo parte do Oriente Médio. Será que, neste século, apesar de as guerras entre nações não serem mais tão frequentes, o foco bélico está se dirigindo para o círculo familiar? Como o dinheiro pode ter tanto poder a ponto de destruir uma família? As famílias são as neonações?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A morte é o fim da vida?

O mundo está repleto de mistérios que a ciência não consegue resolver. A mente humana, a existência de uma energia luminosa e criadora do universo, o amor,... Mas talvez o maior mistério da humanidade seja a morte. Lá nos tempos anteriores a Cristo, os gregos acreditavam que o destino do homem após a sua desencarnação era o Tártaro ou os Campos Elísios, dependendo das ações que a pessoa praticava em vida. Pessoas nobres, corajosas, dignas, íntegras e etc eram destinadas aos Campos Elísios, enquanto os assassinos, ladrões, violentos ao próximo, difamadores e etc eram destinados ao Tártaro. A cultura judaico-cristã propaga a existência do Paraíso Celeste para os bons; do Inferno para os maus; e do Purgatório para os arrependidos que buscam a expiação de seus pecados. Há culturas em que acredita-se que o ser humano reencarna num novo corpo para cumprir uma outra missão ou para resolver questões inacabadas. Enfim... São muitas e muitas especulações que o ser humano faz a respeito do momento pós-morte. Eu não sei em qual teoria acreditar. Às vezes sou adepto de uma, às vezes de outra, às vezes daquela outra, às vezes de nenhuma, às vezes de todas, às vezes de algumas, e etc de acordo com a minha conveniência. Afinal, assuntos que envolvem fé pressupõe uma pitada de conveniência. Não se escolhe uma religião por causa de uma chamado divino que muda as novas vidas. Não acredito nisto. Acredito que escolhemos uma religião, porque seus dogmas são convenientes para a nossa experiência de mundo ou para usarmos algo como justificativa da mudança drástica de vida que um drogado sofre após conhecer os dogmas de uma Igraja Evangélica e deixa de usar drogas, por exemplo. O ser humano necessita acreditar em algo metafísico, que esteja além da vida material na qual estamos inseridos e na qual somos tomados cada vez mais. Mas a escolha de uma religião pressupõe acreditar em todos os seus dogmas à risca? Quanto mais erudição nós ganhamos, mais ficamos com o pé atrás com certos dogmas de nossa religião. As religiões e as seitas pregam um modo de vida e um modo de encarar o mundo distintos, e a sociedade fixa estes valores à medida que elas se fortalecem dentro dela. E o modo de encarar a morte é um deles. Uma amiga me disse que a sociedade impõe uma espécie de "dez mandamentos para encarar a morte" e que cada pessoa sofre a perda de um ente querido de modo distinto de outras. Acredito nisto. Por exemplo, uma pessoa perde um ente querido de maneira fugaz; consequentemente, ela sofre esta perda, porque foi totalmente inesperada. Mas e se a pessoa se preparar para a morte de alguém e, quando acontece, ela não sente nada? Ela se torna uma pessoa insensível com a morte de uma pessoa que teve grande importância na vida dela? Ou apenas fez como um médico antes de uma cirurgia? Anestesiou o paciente para que ele não sofra na hora da cirurgia? E se ela preparou a cirurgia para, depois, se anestesiar? Em casos como este, o paciente são as emoções de uma pessoa, e o médico é o lado racional dela. Após a morte de um ente querido ficam as boas lembranças. As idas à uma feirinha de roupas, uma tarde de lanches, as piadas que ambos trocam, os momentos de amor e carinho e todas as coisas boas que tivemos com alguém que nós realmente amamos e que nos deixou. Outra coisa me preocupa: por que nós conhecemos justamente as pessoas que conhecemos e não outras? Por que num mundo de tantas possibilidades, algumas poucas conseguem tocar o nosso coração e mudar as nossas vidas, sejam elas amigos, família ou namorados? Se, para a cultura judaico-cristã, a morte é uma transição para uma vida metafísica, seja no Paraíso ou no Inferno, por que nós fazemos outras pessoas pessoas sofrerem? Por que as pessoas nos fazem sofrer? Por que fazemos as pessoas felizes? Por que as pessoas nos fazem felizes? Num grupo seleto de pessoas que entram e saem das nossas vidas, mudando-as de acordo com uma cadeia de acontecimentos que alguns chamam de destino, por que somos influenciados mais interiorizadamente por elas e não pela sociedade em geral? Será que temos mesmo uma missão para cumprir nesta época? Será que conhecemos certas pessoas para que corrijamos algum erro de outra vida ou para que elas corrijam um erro que cometeram conosco? A morte é o fim da vida?

É possível gostar de alguém sem conhecê-lo?

Que mistérios são os jogos de sedução! Sempre que nos encontramos com alguém que nos interessa para um possível futuro relacionamento, sentimos algo. Provavelmente não é o amor propriamente dito. É algo um pouco diferente, um sentimento bastante singular. A língua portuguesa, em sua longa lista de palavras e significados, não possui uma palavra que descreva esse sentimento que toma conta da gente quando conhecemos uma pessoa da qual nos interessa. A palavra mais próxima na qual consigo me aproximar é euforia. Sim, euforia! Mas e quando se trata de alguém que ainda não conhecemos pessoalmente; somente por fotos ou por uma conversa agradável no msn ou em outros sites de relacionamentos que existem por aí pela web? E quando se trata de jogos de sedução numa simples conversa on-line? E se fôr uma conversa sem fins "amorosos"? E se a pessoa com a qual tivemos esta conversa tiver terminado um relacionamento recentemente? Alguém que nunca viveu um relacionamento com alguém, como é o meu caso, ainda não é capaz, em teoria, de lidar com as armadilhas que uma relação "amorosa" lhe impõe. Esta pessoa fica eufórica com o possível encontro com alguém que conheceu na web, tem devaneios a respeito de como será este encontro e do que acontecerá, e espera por ele ansiosamente. Tudo por causa de duas ou três conversas que tiveram, vale ressaltar, na web! Conversas nas quais o assunto começou como uma consulta num psicólogo onde o outro desabafava com um desconhecido suas desventuras amorosas com o atual namorado; e que terminou num convite para sair, sendo que este, o que terminou o namoro, mencionou sexo. Uma vez, eu li num dos perfis que visito desses sites de relacionamentos que, entre homens, tudo começa na cama. Será mesmo? Será que Heloísa Perissé, em Sexo, amor e traição, tinha razão ao dizer que o homem é o primata menos desenvolvido de todos por pensar em sua própria banana? Será que um relacionamento entre homens nunca transcenderá o sexo? Ou será que o pensamento imposto pela cultura judaico-cristã e cristalizado pela sociedade, de que amor e sexo só devem acontecer entre um homem e uma mulher, é pura balela? Ou será que é possível haver dois homens que se amam, trocam experiências, vivem toda uma vida e, é claro, fazem sexo? Particularmente, fico com a segunda opção. Acredito que todos nós temos alguém que vá mudar as nossas vidas de maneira avassaladora e que vá nos proporcionar momentos inesquecíveis. Voltando ao assunto desta postagem, eu penso nos inúmeros encontros que acontecem todos os dias em todos os cantos do planeta entre dois gays. Acredito, também, que dois homens se "resolvem" primeiramente na cama. Todas estas questões aqui colocadas martelam incessantemente na minha cabeça e me fazem ter dor de cabeça de tanto pensar. E elas vêm à minha mente, por causa de uma simples pessoa que nem conheço pessoalmente. E eis as grandes perguntas: existem jogos de sedução entre duas pessoas numa sala de bate-papo? Como podemos gostar de alguém somente lendo algumas palavras digitadas numa sala destas? Por que sentimos essa euforia por alguém com quem não sabemos se temos química? É possível gostar de alguém sem conhecê-lo?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vale à pena ser o outro apenas pelo sexo?

Como é bom transar! É impossível haver uma pessoa neste planeta que não goste de fazer sexo. Mesmo o mais beato de todos os homens, mesmo aqueles que trocam os prazeres da carne pelos prazeres espirituais, todos gostam do ato sexual. Uma troca de movimentos estimulantes que nos levam à origem "científica" da vida: o orgasmo. Que sensação maravilhosa! Depois de algumas horas trocando experiências sexuais com o nosso parceiro, temos um momento crucial no ato sexual, cuja sensação é indescritível! Mudando um pouco de assunto, os estudos da Antiguidade afirmam que, desde as épocas mais remotas (as em que há registros culturais; os afrescos, por exemplo) nos mostram que já havia homoerotismo. Na Grécia antiga, as relações homossexuais eram pedagógicas, ou seja, homens mais velhos compartihavam suas experiências com os mais jovens, e isto pressupunha relações sexuais. Em Roma, o "amor grego", as relações entre homens, também era praticado, mas com um detalhe interessante: o condenável na sociedade era o homem com trejeitos andrógenos, a atual "bichinha". Sabe-se também que Júlio César era o "marido de todas as mulheres e esposa de todos os homens". A cultura judaico-cristã, desde seu surgimento, condenava este tipo de relacionamento, e esta condenação se cristalizou na sociedade de tal forma que, ainda hoje, os homossexuais são tratados de forma receiosa pela sociedade. O fato é que boa parte dos homens que curtem uma relação homoerótica é composta por homens comprometidos ou que querem manter a imagem de homem que está inserida no imaginário da sociedade. Aquele que, apenas, se relaciona amorosamente com mulheres. Talvez eles sejam tão discretos assim por medo do olhar da sociedade, da família e/ou dos amigos. Não sei. O fato é que eles são muito cobiçados no universo homossexual por diversos motivos; por exemplo, a pegada e o fetiche. Não me excluo desse grupo; eu também curto sair com os "falsos héteros". Mas a diferença entre se relacionar com homossexuais e com "falsos héteros" é que aqueles podem te apresentar como namorado, te levar para passear, te tratar com exclusividade; em suma, sentimos segurança ao lado deles. Com os "falsos héteros" não. Eles são comprometidos, têm uma "imagem a zelar" diante da sociedade, só podem nos ver de vez em quando; mas o sexo é ótimo! Eles são como uma droga que nos alucina, nos envolve, nos intoxica até sermos totalmente envolvidos por eles. Se realizarmos uma pesquisa, a maioria escolheria os homossexuais, digamos assim, genuínos para encarar um relacionamento sério. Mas boa parte das pessoas admitiriam que ter um "falso hétero" na sua cama é algo bastante excitante e avassalador, e que eles são um ótimo "passatempo" para os tempos de "seca no Nordeste". E o mais interessante: quem sai com "falsos héteros" são geralmente homens homossexuais ou outros "falsos héteros". Afinal, sabemos que o sexo faz mais falta para o homem do que para a mulher. Mas o que tornam os "falsos héteros" tão atraentes assim? Será o sexo ou a questão do fetiche? Se saímos com um homem comprometido, temos consciência de que a(o) outra(o) é a mais prejudicada em toda essa história; é a vítima. Afinal, ninguém gosta de saber (se souber) que o companheiro (a) é infiel. Será que estamos nos tornando pessoas ruins por sermos o(a) outro(a) ou vale à pena fazer isso para termos uma garantia de uma ótima noitada sexual? Vale à pena ser o outro apenas pelo sexo?

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A internet e a televisão estão substituindo o livro?

O que falar do livro? Que ele é feito por papel escrito encadernado com capa e contra-capa? Que ele pode ser didático ou literário? Que alguns são bons ou ruins, dependendo do gosto ou da experiência de mundo do receptor? Bem... Pode ser. Pode não ser. Quem sabe dizer precisamente o que é um livro? Muitos dirão algo que já está cristalizado no senso-comum. Outros poucos tentarão dar uma resposta inteligente. Outros raros conseguirão achar uma resposta que se aproxime do conceito. Ninguém conseguirá conceituá-lo com precisão. O que é certo é o fato de que, desde sua criação, o livro (ou melhor, seu conteúdo) desempenha um papel importante na vida social e no imaginário individual. Através dele, podemos viajar por diversos mundos, onde tudo é possível. Aventuras, amores, questões psicológicas, etc. Também, através dele, de certa forma, somos levados a confrontarmos nossos medos e angústias e a pensarmos a respeito do nosso comportamento. No fim do século XVIII, na Europa, foi criado o folhetim, um meio através do qual os escritores poderiam publicar suas obras de ficção, em jornais. No século XIX, com o sucesso deste novo meio de se ter acesso à literatura, houve muitas especulações a respeito do fim do livro, já que as pessoas preferiam ler os capítulos publicados nos folhetins a consumir livros. É claro que já sabemos o resultado de toda essa história: o livro sobreviveu, e os folhetins já não existem mais. A questão é que, com o mundo globalizado de hoje, onde as informações são transmitidas em tempo recorde, as pessoas não têm mais tempo de sentar num local agradável e ler um livro. O trabalho, a família, a casa, o dinheiro, enfim... tudo é mais importante do que consumir um estúpido monte de papéis. As famílias brasileiras preferem assistir às novelas, ir ao cinema, assistir filmes em casa mesmo, etc. E, cada vez mais, o número do público leitor diminui. E um dado alarmante: os escritores estão preferindo a televisão e outros meios de se lidar com a imagem; por exemplo, Maria Adelaide Amaral, Manoel Carlos e Glória Perez! Não os julgo, porque é muito mais fácil assistir à uma narrativa de ficção ao vivo e à cores do que ter de imaginar o perfil das personagens, os lugares onde os fatos ocorrem, os movimentos que as pesonagens executam no decorrer do enredo. Então, qual seria o benefício da leitura de um livro num mundo imagético? A resposta é simples: os livros nos fazem pensar. Eles não impõem normas de comportamento ou de beleza estética e, quando o fazem, em grande parte das vezes, é para o leitor pensar se estes valores são ou não válidos para uma determinada sociedade. Mas, com a diminuição constante do público leitor e com a ascenção dos produtos de ficção imagéticos (as novelas, por exemplo), o livro estaria condenado ao esquecimento? Se o livro não desapareceu no século XIX, pelo fato de esta época não valorizar tanto a imagem quanto nos dias de hoje, será que, desta vez, o livro desaparecerá? A internet, a televisão, os DVDs e outros meios de comunicação imagéticos estão substituindo o livro para valer?