segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A Descoberta Do Mundo

Confesso que nunca li esta obra-prima de Clarice Lispector. Para falar a verdade, conheci o título desta obra na minha pesquisa para um trabalho sobre a autora e na novela A favorita, mas mesmo assim o título me fez sentir uma forte inquietação interior, que causou uma breve crise existencial no fim do ano passado. E a única saída foi escrever. Mas escrever sobre o quê? Será que uma simples frase nominal composta por quatro palavras poderia ser um assunto interessante para algum leitor deste blog? Talvez. Afinal, como pessoas integrantes de uma sociedade burguesa, ainda, em ascenção, este assunto não é muito sedutor aos olhos de alguém totalmente envolvido com nosso sistema de produção atual. Será? A pesquisa que realizei para um trabalho de faculdade sobre um livro de Clarice Lispector, Laços de família, me mostrou que a autora, apesar de estar inserida em um momento onde a preocupação dos intelectuais era o bem-estar social, estava interessada no bem-estar individual e nos desdobramentos que um simples fato do cotidiano pode causar a alguém, como um cego mascando chicletes no conto Amor ou a fuga de uma galinha no horário de almoço de uma família no conto Uma galinha. E o mais interessante: são fatos que ocorrem num círculo familiar geralmente burguês, que, segundo a autora, é reducionista e previsível. E as perguntas que surgem na minha mente sempre que me lembro da minha leitura desses contos são, para uma pessoa preocupada com a sua missão nesta vida, inquietantes. Será que, com o mundo globalizado em que vivemos onde as informações de qualquer natureza são transmitidas em velocidade recorde, perdemos a capacidade de refletir sobre o motivo de vivermos justamente nesta época, de vivermos tudo o que vivemos, de nos encontrarmos justamente nas nossas famílias e de conhecermos todos os dias justamente determinadas pessoas, quando as possibilidades que o nosso mundo nos oferece são inúmeras? Quando foi que perdemos a capacidade de simplesmente nos sentar numa pedra e ver o pôr-do-sol, sair para caminhar e conhecer pessoas ou nos deitarmos em nossas camas e lermos um bom livro? Quando perdemos a chance de sentir compaixão pela dor do outro? Será que este mundo globalizado em que vivemos está substituindo a nossa humanidade por frases imperativas, como "compre" e "seja rico"? São tantas as perguntas que iriam compôr um livro. Depois de muito pensar, concluí que a nossa existência por si mesma é um agente para que comecemos a descobrir a nós mesmos, ao outro e ao mundo. Afinal, assim como Dostoiévski, para Clarice Lispector, o ser humano vive num processo constante de construção, cujo fim só chega na morte. O que devemos fazer é aproveitar a vida o máximo que podemos e tirar proveito de todas as experiências que vivenciamos,, tanto as boas quanto as ruins, para que, assim, possamos, simplesmente, viver.

Um comentário:

  1. Bravo! Hoje o mundo é feito de aparência e conveniência. O que é uma pena. Belo texto.

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